quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

[HISTORIA MODERNA] DEBATE HISTORIOGRÁFICO - MAURICE DOBB vs PAUL SWEEZY



CONTEÚDO DA UNIDADE 1 DA MATÉRIA HISTORIA MODERNA I.

Conhecendo um pouco do debate historiográfico sobre a transição do Feudalismo para o Capitalismo.

O longo processo que resultou na falência do mundo Feudal e  na  organização  do  Capitalismo  enquanto  sistema  econômico-social foi um tema de profundo interesse para a historiografia ocidental marxista, especialmente a inglesa, durante parte das décadas posteriores à Segunda Guerra Mundial, constituindo-se como um verdadeiro debate teórico. Vejamos o debate entre dois grandes Historiadores a respeito da transição do Feudalismo para o Capitalismo.



MAURICE DOBB – economista e historiador inglês. Escreveu Studies in the Development of Capitalism (em português: A evolução do capitalismo). O livro possui um caráter marxista, abordando o processo de surgimento, consolidação, expansão e decadência do modo de produção Capitalista.

Tese de Dobb: O fator fundamental de destruição do Sistema Feudal foi a pressão senhorial sobre os camponeses, na medida em que os senhores necessitavam de maiores rendas. Isto é, a desestruturação do Feudalismo foi resultado da exploração excessiva dos servos edos conflitos de classes provocados por esta atitude.

As próprias contradições internas do sistema geraram a fuga generalizada dos campos e produziram as revoltas populares, que, aliadas a outros fatores de menor importância (como os aspectos demográficos e comerciais), levaram à lenta dissolução do Feudalismo no Ocidente, permitindo o surgimento do Capitalismo.

Dobb foi o principal contestador da ideia em comum na época de que a expansão comercial europeia havia sido o principal responsável pela dissolução do Sistema Feudal.
Maurice definiu o Feudalismo na relação entre senhor e servo, ou seja, no campo da luta de classes. Para ele, é nessa tensão social que se desenvolvem os principais mecanismos de transformações que o Sistema Feudal passará e que permitirá o avanço do Capitalismo.
Motivos pelo qual Dobb não acreditava ser a expansão comercial o principal fator da crise do Feudalismo:

  1. As obrigações feudais sobre os servos foram sumindo, inicialmente, nas partes economicamente mais atrasadas da Europa ocidental; 
  2. Em várias partes do continente, houve um recrudescimento do Feudalismo, inclusive com produção voltada para o mercado de longa distância; 
  3. O crescimento do assalariamento e do arrendamento de terras na Inglaterra, por exemplo, não correspondeu a um aumento comercial; 
  4. Não havia relação entre expansão do mercado e fim da servidão (que para ele é a mesma coisa que Feudalismo), demonstrando, por meio de exemplos, que houve um agravamento da servidão em vários contextos de expansão comercial.

Segundo ele, a ineficiência do Feudalismo como sistema produtivo, associada às necessidades crescentes de renda por parte dos senhores feudais, foi o fator fundamental de crise e declínio do modo de produção feudal. O aumento da pressão para extração de riqueza junto à camada servil foi fator fundamental de dissolução do Feudalismo.

Esse aumento de pressão sobre os servos tinha uma relação com o comércio, pois os senhores feudais passaram a ter a necessidade de comprar produtos de luxo para manter o seu status social. Entretanto, na concepção de Dobb, o fator fundamental não era o incremento mercantil e a alteração de padrões de comportamento da nobreza, mas sim a reação das classes subalternas ao aumento da exploração servil.

O Sistema Feudal dissolveu-se primordialmente em virtude da luta de classes. O aumento da pressão senhorial para a extração de maiores rendas com os servos resultou no movimento de fuga generalizada dos campos e nas revoltas populares, obrigando, em alguns casos, que senhores retomassem as antigas relações de trabalho. Em outras oportunidades, a nobreza buscou soluções diversas para a falta de mão de obra em suas terras, como o arrendamento de terras para os camponeses que estavam voltados para o mercado utilizando-se delas para produzir.

Esse foi o início de uma relação capitalista que, lentamente, foi ocupando espaço na produção agrícola e na produção artesanal urbana.

Paul  Sweezy - Economista  e  historiador  norte-americano. Opositor à tese de Dobb.


TESE DE SWEEZY: Para este autor, o fator fundamental de dissolução do Feudalismo, que permitiu a ascensão do Capitalismo, foi a expansão comercial ocorrida entre os séculos 11 e 14, ou seja, um elemento externo ao Sistema Feudal – que não tinha o comércio como uma formulação de organização econômica típica – e incapaz de criar condições internas de uma contradição que dissolvesse o próprio sistema.
Essa ampliação do comércio a longa distância teria impulsionado o crescimento da produção para troca, criando um antagonismo fundamental com o princípio feudal de produção para uso.

Para Sweezy, o comércio possibilitou o desenvolvimento das cidades e das primeiras manufaturas, provocou a fuga dos servos para as cidades e permitiu que, a longo prazo, a coexistência entre Feudalismo e sistema de produção para a troca não pudesse continuar, fatos que acabaram liquidando o Feudalismo na Europa ocidental.

Dessa forma, Sweezy concluiu que o sistema social Feudal foi desmantelado pelo desenvolvimento do comércio e da produção voltados para o mercado, que se tornou irresistível ao sistema anterior. Além disso, nos séculos 15 e 16 não existiria mais o Feudalismo (como supunha Dobb), mas sim uma   produção comercial pré-capitalista, que não era feudal mas também não era capitalista.

BIBLIOGRAFIA:

TORELLI, Leandro Salman; PEREIRA, Reginaldo de Oliveira. História moderna I
Batatais/SP: Claretiano, 2013. p.38-46 

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